quarta-feira, 25 de maio de 2011

Especialidade médica, escolha já a sua!


Especialidade médica, escolha já a sua!

Estou chegando perto da metade do curso médico e até agora ainda não decidi qual especialidade quero seguir. Sei que há tempo pra isso, afinal só preciso escolher a residência que quero fazer quando me formar, mas mesmo assim é bom ter uma idéia pra poder nortear os estudos, fazer contatos, cultivar aspirações. É saudável 'ter um norte', mesmo que depois você siga pelo leste, oeste ou até mesmo pelo sul; todos tem o direito de mudar, claro.

Antes de entrar na faculdade eu pensei vagamente em ser cirurgião plástico, sou detalhista, perfeccionista, observador, achei que ia me dar bem nessa área. Depois com o tempo percebi que não me sentiria realizado trabalhando com estética, particularmente me sentiria vazio. Nas minhas pesquisas fiquei sabendo que há um ramo da cirurgia plástica que repara acidentados e queimados, mas na prática do ponto de vista da remuneração a estética é disparadamente mais rentável. Será que eu resistiria À tamanha tenração? Ou sucumbiria à estética em detrimento da minha realização pessoal? Pelo sim pelo não eu logo cedo percebi que meu caminho não seria por aí, apesar da intensa torcida familiar pra que fosse.

Por falar em influência familiar, tenho um tio (primo de painho) que é um grande oftalmologista, foi morar em Natal, montou uma clínica e realiza muitas cirurgias de olhos, muitas mesmo. Sempre que o encontro em Natal ou em Recife ele tenta me seduzir a seguir a área de oftalmo, diz que haverá lugar na sua clínica, que me ensinaria as técnicas e me tornaria um grande profissional. Mas não me atraio por oftalmo, muito menos faria somente por conta de uma promessa de que 'teria o futuro garantido', prefiro me garantir por mim mesmo, e numa área que me dê prazer em atuar.

No primeiro período da faculdade cursei a matéria de anatomia neurológica, saí traumatizado (eu e mais 80% da turma), o professor conseguiu fazer com que desgostássemos dessa área que já tem fama de ser bicho de sete cabeças. Posteriormente em outros contatos com a neurologia eu já a recebia com desconfiança, com uma predisposição a achá-la complicada e desinteressante.

Outra área bastante cotada é anestesiologia, possui um sindicato forte, unido, é independente dos planos de saúdes, a remuneração é boa. Minha tia, que é médica otorrinolaringologista, disse que se fosse escolher hoje uma especialidade certamente seria essa, ela me diz que em termos financeiros é excelente. Sendo assim fui pesquisar o papel do anestesista, conversei com alguns deles, observei seu papel durante a cirurgia, e não me atraiu. Considero sua importância sim, de fato sem ele não há qualquer cirurgia, sei também que ele precisa deter muito conhecimento fisiológico, bioquímico, farmacológico, mas na minha opinião sua prática é muito técnica, impessoal, acredito que o anestesiologista perde o que há de mais sublime na medicina que é a relação com o paciente. O anestesista quase não fala com o paciente e eu quero/preciso ter esse contato pra me sentir completo.

Decidi então que faria algo na área cirúrgica, apesar de nunca ter feito uma eu sempre achei interessante. Mas então surgiu a pergunta: cirurgia de quê? Existem diversas especialidades cirúrgicas, além disso muitas delas se complementam com a prática clínica, o que pra mim seria ideal.

Paralelamente a isso tudo diversos amigos, muitos, disseram que eu deveria ser psiquiatra pois lido muito bem com os assuntos dessa área e por isso não deveria desperdiçar esse talento. Concordo, de fato eu gosto dos assuntos da mente, eles me atraem e me prendem a atenção, mas de acordo com o que leio e observo concluo que no Brasil a conduta psiquiátrica é basicamente prescritora de medicamentos, posso estar completamente errado, mas é essa a impressão que construi acerca dessa especialidade. Sendo assim não me interessaria ser psiquiatra pra passar medicamentos apenas, a "parte boa" do tratamento ficaria toda nas mãos dos psicólogos. Tenho uma amiga, também estudante de medicina, que me disse que vai estudar psiquiatria fora do país, pois não quer ficar aqui pra ser "carcereira de clínica psiquiátrica". E ela conhece bem de perto a realidade psiquiátrica do país, ela conferiu na pele o método e a conduta profissional, as instituições e os tratamentos dados aos pacientes psiquiátricos.

No quarto período conheci a clínica médica, na verdade foi meu primeiro contato prático com a medicina, começamos pelo gobal, pela análise do paciente como um todo, pelos sintomas gerais e depois detalhados de cada sistema, pelo exame físico pormenorizado. Me apaixonei pela clínica médica. Pensei logo em talvez ser generalista, mas com toda certeza se for especialista será numa área clínica, descarto qualquer especialidade que diminua o contato humano do médico com o paciente. Essa não é pra mim.

Nas férias de janeiro desse ano (2011) eu li um livro escrito por um psiquiatra que tratava do sofrimento humano causado segundo diversas origens, o livro é fantástico, e a partir dele eu começei a pensar como sofrem as pessoas inférteis e de repente me deu um estalo: "eu poderia trabalhar com fertilização assistida e ajudar essas pessoas que tanto sofrem". Então conversei com profissionais, pesquisei e mesmo sem saber a rotina do profissional eu me animei com a possibilidade de ser ginecologista especializado em fertilidade. Além disso minha tia médica disse que o mercado é bom, rentável e o profissional tem uma boa qualidade de vida.

Coincidentemente no primeiro semestre desse ano eu prestei a matéria de ginecologia/obstetrícia, gostei de ginecologia e adorei obstetrícia, muito mesmo. Quem faz residência em em ginecologia necessariamente faz pra obstetrícia, sendo assim eu pensei que poderia fazê-la e posteriormente me especializar em fertilização assistida, poderia atuar na fertilização e na obstetrícia. E ainda teria o trunfo de atender ginecologia no consultório.

Nesse mesmo semestre eu cursei pediatria e apesar de já ter escutado muitas vezes que levo jeito com criança eu sempre tive como certo na minha cabeça que nunca faria pediatria nem geriatria. Geriatria tem um futuro promissor, a população está envelhecendo, precisaremos de muitos geriatras, mas não consigo me enxergar geriatra, acho que não me cai bem. Pediatria também não me anima, ainda que as condições de trabalho e salário aumentassem e isso precisa ocorrer urgentemente - eu não escolheria cuidar de crianças o resto da minha vida, parece exaustivo cuidar da criança e sobretudo de sua mãe, essas sim dão mais trabalho aos médicos do que o próprio filho.

No fim das contas eu ainda não sei que área pretendo seguir, talvez eu saiba o que eu NÃO vou seguir, não quero anestesiologia, oncologia, coloproctologia, dermatologia, geriatria, homeopatia, infectologia, mastologia, medicina da comunidade, medicina do trabalho, medicina legal, medicina esportiva, medicina do trabalho, medicina nuclear, medicina preventiva, oftalmologia, patologia, radiologia, nem radioterapia.

Ainda estou cheio de dúvidas e falta conhecer diversas especialidades de perto, talvez eu acabe seguindo conforme o meu norte, ou mude de direção de repente, quem sabe... Procuro uma área que me traga satisfação pessoal, que me faça sentir médico, útil, que eu possa ajudar as pessoas e que me dê prazer em trabalhar. Além disso eu não seria hipócrita de ocultar que me procupo sim com as condições de mercado e com a remuneração da minha (futura) especialidade, isso também pesa na minha escolha, afinal uma vez escolhido um caminho mais tarde não adianta se arrepender.

Nesse semestre em que cursei pediatria "descobri" um ramo interessante da pediatria, a neuropediatria, parece que mistura a neurologia com a psiquiatria, voltados para a infância e juventude. Que ironia, logo EU que me traumatizei com a neurologia no primeiro período, que nunca quis ser pediatra e que me desiludi com a psiquiatria há algum tempo, hoje cogito a possibilidade de atuar nas três áreas de uma só vez. Ou será que devo fazer Gineco-obstetrícia voltado pra fertilização artificial? Ou cirurgia?

Oh, dúvida cruel...

Nota: Em momento algum quis hierarquizar as especialidades médicas, a postagem reflete puramente as MINHAS inclinações e aptidões de acordo com a minha perspectiva e opinião, tenho consciência das diversas áreas médicas assim como de outras profissões. "Sozinho não se faz nada, domos apenas uma parte que compõe o todo."

AQUI você confere a lista das 53 especialidades médicas reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira e Comissão Nacional de Residência Médica.
[Mente Hiperativa]

10 comentários:

  1. Adorei o organograma.
    Pelo meu espírito sádico, seria cirurgião, só para retalhar as pessoas rsrsrsrs

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  2. Fluxograma confuso esse,mas tá valendo!Aff quando o assunto é decidir eu sou a pessoa menos indicada pra dar sugestões.
    Mas é uma escolha que deve ser tomada de forma bem consciente, ainda tens bastante tempo abel pra decidir então vai ocm calma, vêalgo uqe tu realmente goste, porque pensar só no retorno financeiro é complicado.Claro uqe não somos hipócritas de dizer que ele não é importante porque ele é e muito,mas não é tudo.
    Beijosss

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  3. Muito bom!
    Tô entrando agora na faculdade mas já perco horas, muitas, tentando imaginar minha especialização. Mas ainda é cedo...


    ...ou, pelo menos, não é tão tarde!

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  4. Voltei!!!
    Esqueci de dizer: adorei também o texto, poucos são tão bem escritos como este. Parabéns, você brilhou. Como sempre.
    Grande abraço

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  5. Escolher é muito difícil porque descartamos as outras possibilidades que nos agradam também, mas como não podemos fazer tudo temos que escolheeeerrr!! Eu também sei bem o que eu não quero, no entanto para eu saber o que cargas d'água eu realmente quero é bem demorado, refletido e investigado exaustivamente, raramente sou impulsiva.
    Uma maravilha essa viagem nas especialidades médica, gostei mais da neuropediatria, ; )
    beijo

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  6. Como a Bilogia fez parte de minha vida e junto com ela a Zoologia e a Entomologia como especialidade, eu seria um tropicalista, ou seja, estudaria as doenças tropicais.
    Coisa de um ex Entomologo dipterologista.
    Um abração e boa sorte na escolha.

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  7. olha posso te dizer uma coisa: depois do internato vc vai começar a ter uma visão mais real da coisa...

    particularmente pude perceber q a sua visao sobre o anestesio eh a q eu tenho hj sobre o cirurgiao...pela minha vivencia observei q o anestesio tem mais oportunidade e pode aproveitar mais o contato com o pct...inclusive preparando-o ali na mesa cirurgica, conversando, acalmando e depois q ele esta pronto e anestesiado o cirurgiao chega, faz e vai! bom mas essa é apenas a vivencia q eu tive. tem ainda a parte ambulatorial das 2 especialidades, com o pre e o pos cirurgico.

    em relação a psiquiatria... vc vai fazer a medicina q vc vai fazer...se vc n gosta desse padrao farmacologico vigente, vc ta certissimo e soh por isso ja apresenta uma enorme vantagem em relação aos demais psiqs q soh enxergam sintomas e remedios... na minha vivencia eu tive justamente essa ideia quebrada, pelas aulas, praticas, congressos q participei vejo q a forma medicamentosa da psiq esta sendo deixada um pouco de lado...ao menos começam a questionar os métodos...
    mas independente disso eh como disse antes, vc faz a medicina q vc faz...sempre me interessei por psiq mas a seu exemplo n concordo com essa visao medicamentosa q só v sintomas na frente, dai já parti p um curso de psicoterapia extra curricular e pretendo me enveredar por essa subespecialização da psiq ao longo dos anos...as palavras sao mt poderosas e fazem mt diferença, aliadas à tecnicas e metodos entao... seja a especialidade q vc quiser, vc pode sempre complementá-la e ajusta-la ao seu modo!

    parabens pela sua forma de se questionar e pelas suas intenções!

    ...soh mais uma coisa, uma vez discutindo sobre abordagens psicoterapicas alguem me disse: vc n escolhe a abordagem de psicoterapia com a qual vai trabalhar...é a abordagem que escolhe voce! ...e como isso é verdadeiro na minha vida! ;)

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  8. Muito bom o texto! Também estou no mesmo barco que você. Não consigo decidir minha especialidade. Achei seu blog porque digitei no google "qual sua especialidade médica". Estava pesquisando isso no google porque fiz um quiz e deu como especialidade otorrino. E esses dias eu me imaginei como otorrino. Daí sei lá... fiquei inquieta! Eu nunca tinha pensado em otorrino até então. É verdade que ainda estou no segundo ano de medicina, mas como você disse, é sempre bom ter um norte.
    Eu concordo com o que o Thiago disse em relação aos cirurgiões e aos anestesistas. É o anestesista quem tem contato com o paciente na hora da cirurgia. O cirurgião chega depois que o paciente está anestesiado. E também cirurgia me parece algo mecânico demais! Não sei. Eu posso estar enganada, mas parece que cirurgia é muito prático; se perde quase toda a anamnese porque geralmente quem chega pro cirurgião já vem encaminhado especificamente pelo clínico... Eu jé me desiludi com cirurgia.
    E quanto a otorrino? Pergunta pra sua tia os prós e os contras e me fala? Tô pensando bem a respeito de otorrino agora... hehe

    abração
    e boa sorte

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  9. acho que fiquei com plástica.. kkkkk

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