sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TOC


TOC

Acordou-se ao som dos despertadores, três deles, todos no mesmo horário. Levantou-se com o pé direito e foi ao toalete, com cuidado pra não pisar nas linhas do chão. Lavou as mãos e olhou-se no espelho, ajeitando os cabelos assanhados, escovou os dentes e ao fim da escovação alinhou a escova com o creme dental, com o fio dental e com a escova de cabelo, tudo paralelo. Lavou as mãos de novo.

Ainda de pijama sentou-se à mesa na cozinha, talher de um lado, copo na frente, com estampa virada, guardanapo dobrado, milimetricamente ao meio. Suco só de laranja, ou maracujá, pois são amarelos. Manga também podia ser, mas nunca acerola, uva, ou qualquer suco de outra cor.

Terminado o café da manhã, colocou a louça suja na pia, mas não de um jeito qualquer, pratos maiores embaixo, menores em cima, copos enfileirados, talheres paralelamente arranjados. E depois de toda essa arrumação, lavou novamente as mãos. A cozinha era toda ornamentada de verde, tampas dos potes, bainha dos panos de prato, utensílios quaisquer, verde, sempre verde. E nada noutra cor.

Correu até o quarto, em passos pares e aboletou-se na cama, com cuidado pra não desforrar o lençol estampado. Partiu para o ritual de espera, pois o dia só deveria começar às nove da manhã em ponto. E ainda era oito e quarenta e oito. Estava ansiosa pra lavar as mãos, mas precisava permanecer ali parada, estática, pois senão o dia não daria certo e alguma tragédia terrível poderia acontecer.

Era assim que ela exercia seu poder sobre os acontecimentos do dia. Ou pelo menos acreditava nisso.

[Mente Hiperativa]

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