sexta-feira, 20 de abril de 2012

O hospício (parte 2)



O hospício (parte 2)

Há alguns meses postei um texto chamado 'O hospício' no qual eu descrevia os personagens que ali habitavam e em seguida questionava se essa instituição seria um local de tratamento ou de agravamento da loucura, se esse local estaria realmente cumprindo sua função social de aliviar o sofrimento e reintroduzir o indivíduo portador de um transtorno psiquiátrico na sociedade.

É claro que a pergunta era retórica. Sabemos que esses locais, felizmente em processo de extinção, apenas se prestam à manutenção da loucura, funcionando muito bem pra 'limpar' a sociedade da convivência com os "loucos" e delirantes, sem qualquer compromisso com o bem-estar, socialização ou cura dos doentes.

Porém um comentário -ao meu ver- inocente e leigo, me fez constatar que muitas pessoas não se dão conta do quão absurdo é esse lugar, não sabem como é ruim e ultrapassado esse conceito de tratamento que reprime e restringe a liberdade, impede o direito de ir e vir, priva o cidadão dos seus direitos mais básicos, afasta-o da família e da sociedade, condenando-o a uma morte lenta, diária e sobretudo dolorosa. Dor física é pouco, é de doer na alma.

Sendo assim, após esse comentário que, inocentemente, defendia os manicômios, resolvi tentar esclarecer as coisas e escrever o meu ponto de vista sobre a questão dos hospícios:


"Caro anônimo, provavelmente você é um leigo e nunca entrou num manicômio, desconhece as condições DEShumanas a que são submetidas essas pessoas.

Hoje em dia há o movimento antimanicomial, que promove o fim dessas prisões que encarceram as pessoas e as fazem piorar ainda mais de seus males mentais, isolando-as de qualquer convívio social.

 Em troca eles propõem um tratamento mais humano. A ideia é que o paciente seja tratado nos centros de atenção psicossocial (CAPS), e depois retornem às suas casas, para viverem com suas famílias, as quais também recebem apoio desses centros para aprenderem a lidar com as dificuldades de ter um parente com transtornos mentais. O paciente deve se manter inserido num contexto social, ter obrigações, rotina, uma vida normal, e aprender a lidar com suas limitações, sem que isso implique no comprometimento de suas habilidades.

Então esse é o conceito atual mais valorizado, do tratamento que não enclausura nem esconde, mas que socializa e promove o bem-estar do indivíduo portador de transtorno mental. E nos casos em que ele não tem família, ou que a família o abandonou por não saber lidar com a situação, há abrigos que tentam aproximar-se à realidade de um lar coletivo. Claro que estes não existem em todas as cidades, por isso alguns manicômios ainda se mantêm como uma forma de manter os casos remanescentes que não tem pra onde ir. Porém os novos casos são tomados de acordo com essa nova conduta, tratados no CAPS e enviados pra casa com sua família, de modo que num futuro (espero que próximo) não teremos portadores de transtornos mentais sem família que precisem ser escondidos, dopados e mal-tratados em instituições extremamente insalubres, chamadas manicômios. 

Abraço"

[Mente Hiperativa]

7 comentários:

  1. É, infelizmente tem muitas pessoas sem informações sobre certos assuntos, que não se dão à buscar conteúdo, e ainda quer opinar sobre tal. Mas pior, porque esse tema psiquiátrico não é discutido na sociedade, não se vê muito sobre isso na tv e no cotidiano informativo. Por isso a maioria das pessoas mal sabem do que se trata, só as com alguma experiência; é por falta de debater sobre o assunto.

    Mas são só opinião, que nada implicam no muito que vem sendo feito pelos doentes mentais. Que a extinção dos manicômios deve ser feito, é algo certo. Só falta a sociedade se situar do que se trata.

    Abração!!

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  2. O próprio judiciário já mantem programas de atenção ao paciente judiciário, como o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário portador de sofrimento mental(PAI-PJ) que atua em parceria com o CRAS e outros organismos estatais,sendo uma de suas metas o acesso a tratamento em saúde mental na rede substitutiva ao modelo manicomial dos réus ou sentenciados portadores de transtorno mental.

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    1. Não tinha ideia de que existia um programa especial pra isso, bom saber!!!

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  3. Em Minas o PAI-PJ funciona há 10 anos e parece que outros Estados já estão adotando este projeto. Se estiver interessado em saber mais sobre o assunto acesse www.tjmg.jus.br- na pagina inicial o link "novos rumos"...S

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    1. MUITO obrigado, vou agora mesmo ler. Abraço

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    2. Desculpe, mas não consegui localizar o link 'novos rumos'. Onde ele fica exatamente?

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  4. Na lateral da pagina inicial, na aba Atalhos... Presidencia ... a ultima e programa novos rumos...se não conseiguir o e-mail de contato é: paipj@tjmg.jus.br

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