segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O doce sabor do passado


O doce sabor do passado

Eu vejo aquele senhor sentado no sofá reclamando da TV, ele diz que no seu tempo havia programas de qualidade, mais interessantes, diz também que as mulheres se valorizavam mais e não se ficavam rebolando nuas em troca de alguns poucos vinténs. Embora eu saiba que a TV sempre foi um instrumento de alienação das massas e que as mulheres sempre foram usadas para entreter o público masculino ele pode ter alguma razão no que diz, afinal a qualidade da programação televisiva hoje em dia não vale muita coisa. Mas esse senhor não para de reclamar por aí.

Tudo que ele vê, fala que não presta, tudo que é novo não é tão bom quanto era no seu tempo. Ele diz que hoje os jovens não querem nada com a vida, que moram com os pais até atingirem a maturidade, e que no tempo dele começou a trabalhar desde muito cedo, 14 anos já labutava como vendedor; aos 18 já morava sozinho e pagava as próprias contas. Eu sei que os tempos mudaram, o mundo mudou, e nós jovens mudamos também, mas esse senhor parou no tempo. Ele não consegue entender que hoje em dia o trabalho braçal não tem tanto valor, que é preciso estudar e estudar cada vez mais, e que o estudo é sim o melhor investimento, diferente de como era no seu seu tempo.

Às vezes quando ele está reclamando do mundo eu concordo com esse senhor, balanço a cabeça e finjo que ele está certo, que o mundo de hoje não é nada comparado ao daquele tempo. Mas é só pra não ter que discutir e me desgastar com ele. Outras vezes tento mostrar-lhe as coisas boas que o mundo tem, tento convencê-lo de que sempre houve de tudo no mundo, e tento situá-lo no tempo presente, mas é muito esforço em vão pois ele nunca me ouve nem concorda comigo. É difícil conversar com quem é dono da razão, sábio e experiente, eles sempre dizem que um dia entenderemos o que eles estão nos falando... Então me pergunto, será que hoje ele entende o que seus pais diziam?

Esse senhor é tão novo que nem imaginam, diferente do que podem ter pensado ele não é um ancião, tem menos de cinquenta anos, mas talvez já se comporte como um sem nem notar isso. Vive preso ao passado, ouvindo as mesmas músicas, frequentando os poucos lugares 'do seu tempo', recordando a vida que viveu mas que não voltará. E que vida terá pela frente dessa maneira?


Eu vejo esse senhor reclamando do mundo, dizendo que tudo mudou, que antes era bem melhor. Eu sei que ele se sente um intruso nessa sociedade, perdido, sozinho, pois se recusa a encarar e conhecer o novo. Queria fazer com que ele entendesse que quem vive de passado nunca irá encontrar seu espaço no presente; quem se nutre de nostalgia jamais se sentirá confortável na contemporaneidade. Mas como convencê-lo a experimentar o novo, eu não sei como fazê-lo.

[Mente Hiperativa]

Um comentário:

  1. Interessante essa visão e realista. O novo desperta receios, mas se encararmos como desafio, perceberemos quão magnífico é poder vivenciar novos momentos e usufruirmos de uma nova realidade.

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