sábado, 4 de janeiro de 2014

Reflexões de identidade no meio da madrugada


Reflexões de identidade no meio da madrugada

Nem só de crise vive o ser pensante, mas sobretudo de reflexões. E não há melhor horário do que a madrugada pra despertar os pensamentos mais abstratos e ilógicos possíveis, que no fim das contas nos conduzem por uma viagem de ideias e conexões entre a loucura e o verdadeiro sentido das coisas. Qualquer comentário pode parecer bobagem, mas cada gesto e figura representam um valor para aquele que o interpreta, afinal pra tudo há um sujeito oculto pelo nosso subconsciente.

E pensando na madrugada conclui que sou um cérebro o qual precisa de outros cérebros pra confabular ideias, sou tão coletivo quanto um bando de gnus atravessando a planície do Serengueti e tão inútil quanto um único neurônio isolado, incapaz de produzir qualquer sinapse. Sou unidade, sou amontoado que se perde na multidão e perde a individualidade sem perder a identidade.

Tenho um coração que busca a faca que o perfure sem dó nem piedade, preciso de lágrimas para mover meus sentimentos e fazer bater esse músculo esculpido em pedra sabão. Por isso, então, que quero sempre o fio da navalha a percorrer minha carne fazendo-a despejar o sangue vermelho, vivo, voraz, viajando vagarosamente pela minha alma. E se doer, suportarei até o fim a dor, pois ela me fará sentir vivo.

Lembro daquele dia que quis ficar sozinho, descobri que só não sou nada, senti-me um pedaço de vento sem poder correr, um aparelho de som flutuando no vácuo do universo, que grita mas não fala. Poderia ter nascido como um pedaço de grama no meio do gramado de um estádio de futebol, mas mesmo que tivesse nascido como um simples tufo ao lado de uma tampa de esgoto poderia ao menos tornar menos fétida a podridão que dela exala. E se eu fosse uma flor, que diferença faria adornar os cabelos de uma moça ou compor a coroa que presta uma homenagem póstuma num velório?

Sinto-me como uma vela a derreter sua cera quente, na missa ou no velório, na comunhão ou no aniversário. Sou o calor da vela, do corpo doente, em chamas, sou a vida transbordando do rio, da chaleira ou da sua paciência. Sou humano, sou um pouco disso tudo. Talvez eu não seja nada disso.

Fugi de casa pra não ter que dar satisfação a mim mesmo, talvez eu não queira me encontrar e me perca, mas posso me achar no primeiro bar da esquina, depois bater na igreja. E ainda assim eu não sei quem sou. Será que um dia vou saber? Aliás, será que preciso mesmo saber?

[Mente Hiperativa]

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